Ramsay Hunt: entenda o que é a síndrome que afeta o cantor Justin Bieber
Doença tem o título de síndrome por conta das lesões e da necessidade de tratar a infecção pelo vírus
Por Simone Valente
Recentemente o cantor Justin Bieber usou as redes sociais para anunciar que estava com uma paralisia facial, causada pela Síndrome de Ramsay Hunt. No vídeo, o cantor fala sobre a condição e demonstra que não consegue piscar ou movimentar a boca em um dos lados do rosto.
Segundo a neurologista Viviane Moroni Felici, a doença que acometeu o artista canadense é semelhante à paralisia de Bell, tendo como diferença a origem do problema.
“As duas síndromes se referem a uma paralisia facial periférica. A diferença é que a Ramsay Hunt é desencadeada por um quadro de herpes-zóster no ouvido. Ela forma lesões bolhosas que acabam atingido o nervo, que inflama e causa a paralisia”, diz a médica.
A herpes-zóster, causada pelo vírus varicela-zoster, é conhecida popularmente por outros nomes, como “cobreiro” ou “comichão”, e costuma acometer o tronco dos pacientes. As lesões costumam ser bastante doloridas. Quando ela acomete o ouvido, causa a Ramsay Hunt. E isso pode acontecer com qualquer pessoa que teve catapora na infância. Isso porque o vírus fica adormecido, mas, em um momento de baixa imunidade, pode despertar.
“Por quase todo mundo ter tido catapora, não tem como prever quem será acometido, não existe um grupo de risco. O principal sintoma da doença é a dor de ouvido, que pode ser muito forte por conta das lesões. A dor, inclusive, pode aparecer antes dessas bolhas. E, depois que elas aparecem, ou no mesmo momento, vem a paralisia”, ressalta Viviane.
A médica ainda explica que a doença não costuma acometer novamente o mesmo paciente e recebe o título de síndrome por conta das lesões e da necessidade de tratar a infecção pelo vírus. E não pela paralisia, mas por conta das lesões, a doença pode progredir para uma meningite e, por isso, o tratamento é de extrema importância.
Quando diz respeito ao tratamento, a Ramsay Hunt também se difere da paralisia de Bell. Isso porque o paciente precisará tomar remédios antivirais utilizados no tratamento da infecção da herpes-zoster.
“No geral, quando se fala em paralisia facial periférica recente, sempre receitamos um corticoide por uma semana. Na Ramsay, entramos com os antivirais. Depois de um período de cerca de 15 dias, encaminhamos para a fisioterapia facial. Esse tempo é necessário porque o paciente tem muita dor no início, o que seria incômodo durante os exercícios”, explica a médica.
Vale ressaltar que mesmo após o tratamento, é possível que o paciente fique com sequelas, com parte do rosto ainda paralisado. Além disso, até em casos sem sequelas permanentes, os pacientes podem levar até nove meses para recuperar os movimentos, que é o tempo que o nervo pode demorar para desinflamar por completo.
“Quando falamos nesse assunto, é importante pontuar a diferença entre as paralisias periférica e central. A periférica, como as de Bell e a Ramsay Hunt, pega toda uma metade do rosto, inclusive olho e testa. Na central, que é a que o AVC (Acidente Vascular Cerebral) causa, só a parte inferior é acometida. Então, a pessoa não consegue sorrir, mas o movimento do olho e das sobrancelhas se mantém normal”, conclui Viviane Moroni Felici.
Em meio a discussões sobre acesso ao aborto legal no Brasil, o Ministério da Saúde realiza nesta terça-feira audiência pública para discutir a respeito de uma cartilha que trata sobre a conduta de profissionais da área em casos de interrupção da gestação. O documento elaborado pela pasta foi amplamente criticado por trazer informações incorretas, como a alegação de que “não existe aborto legal no Brasil”, embora a legislação vigente estabeleça casos nos quais a prática é autorizada.
Nesta terça, o ministério amanheceu cercado por alambrados de ferro para dificultar o acesso de eventuais manifestantes. A pasta reforçou a segurança para evitar incidentes durante a realização da audiência, mas não informou o efetivo empregado.
No dia 8 de junho o ministério publicou a cartilha “Atenção técnica para prevenção, avaliação e conduta nos casos de abortamento” e, depois da repercussão negativa, abriu uma consulta pública sobre o tema por meio do e-mail da Secretaria de Atenção Primária à Saúde (SAPS), a pasta é comandada pelo médico antiaborto Raphael Câmara. As propostas enviadas via e-mail serão lidas na audiência desta terça, assim como o nome dos autores. O aborto é um problema de saúde pública no Brasil. De acordo com dados do ministério, a prática é a quinta maior causa de morte materna no país.
Na semana passada, defensorias públicas acusaram o Ministério da Saúde de dificultar a participação no evento. De acordo com elas, a pasta marcou a audiência com poucos dias de antecedência e exigiu comparecimento presencial. A pasta permitirá discurso por videoconferência apenas para convidados, mas a lista dos nomes chamados ao debate não foi divulgada pelo ministério. As defensorias públicas de 13 estados assinaram uma nota recomendando ao Ministério da Saúde que suspenda imediatamente a divulgação do guia publicado pela pasta e retifique as informações incorretas contidas no documento. O grupo também recomendou a remarcação da audiência pública, o que não ocorreu.
A cartilha publicada pelo Ministério da Saúde corrobora a posição em defesa da restrição ao aborto mesmo em casos legais. Embora o documento afirme que “todo aborto é um crime”, a legislação brasileira permite que a gravidez seja interrompida em casos de risco de morte para a mulher, de gestação decorrente de estupro e de anencefalia fetal. A posição da pasta foi considerada um equívoco jurídico e uma “artimanha política” por especialistas ouvidos pelo GLOBO.
” Não existe aborto ‘legal’ como é costumeiramente citado, inclusive em textos técnicos. O que existe é o aborto com excludente de ilicitude. Todo aborto é um crime, mas quando comprovadas as situações de excludente de ilicitude após investigação policial, ele deixa de ser punido, como a interrupção da gravidez por risco materno”, afirma a cartilha publicada pela pasta.
As discussões sobre aborto legal no país ganharam destaque após vir a público o caso de uma criança de 11 anos que engravidou em decorrência de um estupro e teve o acesso à interrupção da gravidez negado pela Justiça. A família recorreu à Justiça após o hospital ter se recusar a realizar o procedimento.
Uma gravação da audiência divulgada pelo pelo “The Intercept” mostra a juíza Joana Ribeiro Zimmer tentando induzir a criança a manter a gravidez. A magistrada argumentou que a gravidez só poderia ser interrompida até a 22ª semana de gravidez ou desde que o feto tivesse menos de 500 gramas.
Segundo juristas, no entanto, a lei brasileira não traz esse detalhamento. Na quarta-feira passada, a criança conseguiu realizar o aborto. Para realizar um aborto legal no Brasil não é necessário apresentar boletim de ocorrência, laudo do Instituto Médico Legal ou decisão judicial.
“Tu suportaria ficar mais um pouquinho (com a gestação)?”, perguntou a juíza durante a audiência.